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Foto
da visita a Lucia Jung.
Continuando a série de histórias dos nonagenários de
Santa Clara do Sul, estarei publicando nos próximos meses, mais algumas
entrevistas. O objetivo é deixar registradas estas memórias que aconteceram há
mais de 80 ou 90 anos, assim preservado a história de nossa comunidade.
No último 02 de fevereiro, belo e ensolarado domingo
de verão, após a missa na Igreja Matriz, fui visitar as irmãs Lúcia Hilda Jung,
95 anos, e Imelda Isabela Jung, 80 anos, para uma boa conversa em alemão, sobre
os idos tempos.
O foco da nossa conversa foi a vida de 95 anos da
Lúcia, que com muita lucides, conta ser a segunda filha do casal João Augusto
Jung e Anna Paulina Kramer. Nasceu em 20
de Dezembro de 1927, em Santa Clara do Sul, então segundo distrito de Lajeado,
quando a Igreja Matriz ainda era uma Capela da Paróquia Santo Inácio de Lajeado
e sua construção havia sido finalizada pouco mais de 10 anos. João Augusto e
Anna Paulina tiveram uma numerosa família de 11 filhos: Acilda Letvina, Lucia
Hilda, Antônio Aloysio, Orlanda, Irma Maria, Elma Elisabeth, Albano Francisco,
Inácio Irineu, Imelda Isabela, Dalmira, Valdemar.
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Foto
da família de João Augusto Jung e Anna Paulina Kramer. |
Lucia conta, que nasceu e residia na Rua das Flores,
e que pouco antes de 1933 seus avós maternos, João e Olga Kramer e alguns tios,
haviam se mudado para desbravar Boa Vista do Buricá. Nesta oportunidade seus pais
com os quatro primeiros filhos, receberam do avô, o convite para unir-se a
família na nova colônia. Foi assim que seu pai, João Augusto, vendeu sua casa,
terras e animais para João Schabbach, e foi com a família em busca de um futuro
promissor, levando apenas alguns móveis e um cachorro, em uma longa viagem de
ônibus.
A Boa Vista do Buricá naquela época, era uma área de
mata que foi desbravada, com a venda da madeira, os pioneiros construíram suas
casas e pagaram suas áreas de terras, que tinham pouco valor, comparadas ás de
Santa Clara do Sul. O avô de Lucia, João Kramer, acolheu os filhos em sua casa,
até que pudessem ter a sua própria, foi assim com seus pais e tios Ervin Kramer
e Frida Eckert. Quando os tios estavam se mudando para a casa nova, em uma
ribanceira, a carroça com a mudança do casal perde um pino e se desmonta, os
bois se colocaram a correr, a tia Frida ainda tentando segurar sua maquina de
costura, cai da carroça e fica presa pela perna em uma corrente e assim foi
arrastada. Lucia lembra que a tia ficou
com o rosto desfigurado, relata ela em alemão “em pedaços”, e no velório
cobriram seu rosto com um pano. Não havia padre na comunidade, apenas em Três
de Maio a família conseguiu contatar um sacerdote para celebrar as
exéquias. A avó de Lucia, Olga, quando
ficou sabendo do ocorrido teve um AVC, também não foi possível contatar médico,
e a avó faleceu no mesmo dia do enterro da tia Frida, o padre não pode
comparecer a nenhum dos sepultamentos, devido às dificuldades de deslocamento.
Diante de tal situação, sem assistência médica e
espiritual, o pai de Lucia ficou muito receoso em continuar a vida em Boa Vista
do Buricá, voltando para Santa Clara do Sul, depois de nove meses, comprou a
casa e os animais que havia vendido antes da mudança para João Schabbach.
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Foto
de Lucia criança, sentada na cadeira ao lado de sua irmã Acilda.
Lucia estudou alguns meses na escola em Boa Vista do Buricá, em Santa Clara do Sul, foi aluna do renomado professor e regente João Otto Ruschel. Após frequentou alguns meses a escola no Bairro Conventos em Lajeado com o Professor Penz. Por fim, estudou com professoras, no prédio que hoje sedia o museu e biblioteca municipal, onde ela denomina como “Rehirum Schule”, as aulas eram em Alemão, não haviam cadernos, os alunos tinham pequenas lousas, onde desenvolviam suas atividades, apagando elas no termino da aula . Ela se lembra dos colegas Arnoldo Ruschel, Nely e Vania Schabbach. Aos oito anos fez a Primeira Comunhão e aos doze a Comunhão Solene, na época a escola e a religião estavam interligadas, onde na Comunhão Solene era o encerramento do período estudantil.
Quando Lucia terminou seu período escolar, trabalhou em casa com os pais, no cultivo da lavoura, plantando milho, aipim, batata, feijão, cana de açúcar, aboboras, tudo para o sustento da família. Neste período também a família construiu uma casa nova, as madeiras utilizadas, foram de arvores cortadas na propriedade, Lucia e sua irmã mais velha, Acilda, ajudaram seu pai a serrar as toras para a construção.
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Lucia
com suas irmãs mais velhas.
Lucia,
Elma, Acilda Irma
e Orlanda |
Conversamos sobre as festividades e comidas de antigamente, foi então que ela procurou seu caderno de receitas antigas, escritas em alemão, onde constam vários doces como pudim de laranja, pudim de queijo, pudim de leite, Eier Süss (doce de ovos), torta de chocolate, além de cucas, bolos, wafle e bolinhos. As principais festividades do ano eram Natal, Páscoa e a festa do Kerb. O Kerb é a festividade do padroeiro da paróquia, que reunia toda família, parentes muito distantes vinham para a comemoração que durava três dias, então eram preparadas todas estas delicias preservadas em seu caderninho de receitas..
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Livro
de receitas de Lucia, escritas em Alemão.
Em 1987, Lucia e sua irmã Imelda mudaram-se para o
centro de Santa Clara do Sul, onde residem até hoje. Em 2016 no centenário de
construção da Igreja Matriz São Francisco Xavier, Lucia fez a doação de uma
imagem de Santa Clara de Assis, que está na capela em frente a Igreja. Termino
mais um belo relato e exemplo de vida, cheia de desafios e superações, agradecendo e desejando saúde, lucides e vida feliz para a Lucia!
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Imagem
de Santa Clara de Assis, doada por Lucia, no centenário de construção da Igreja
Matriz de São Francisco Xavier. |
Para mais clique abaixo:
98anos Ida Maria Gottselig Friedrich
Rafael
Henrique Lenhard, nasci em 19 de Dezembro de 1994, em Santa Clara do Sul RS.
Sou formado como Bacharel em Administração pela Universidade Norte do Paraná.
Pesquiso a genealogia de várias famílias desde 2008.
Se você tiver alguma
contribuição para fazer, estarei a disposição, contate pelo facebook, ou e-mail
rafaelhelenhard@gmail.com, não esqueça de me seguir para acompanhar as
publicações.
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