domingo, 12 de março de 2023

91 anos de Thereza Kunz Marges


Foto da visita a senhora Thereza Kunz Marges


Na semana passada, em um belo final de tarde, a conversa foi com a senhora Thereza Kunz Marges, ela que é neta paterna do pioneiro Santa-clarense Felipe Kunz e Catharina Olbermann, este que chegou aqui em 1874 e narrou em seu diário, toda viagem, da Alemanha até a colonização de Santa Clara do Sul. Ela é neta materna de Leopoldo Goergen e Paulina Ruwer, Leopoldo foi sub-intendente de Santa Clara do Sul na década de 1920. Thereza é a quarta filha do casal José Kunz e Bertha Goergen, nasceu em 28 de junho de 1931, na casa do avô Leopoldo Goergen, no centro de Santa Clara do Sul, teve uma infância com muitas mudanças, após nascer no centro da cidade, a família mudou-se para Nova Santa Cruz, sempre trabalhando arduamente para comprar sua própria área de terra. 

Casa que pertenceu a Leopoldo Goergen, onde Thereza nasceu.


Em Nova Santa Cruz, Thereza frequentou a escola com o renomado professor da comunidade, Pedro Canísio Weber. Em pouco tempo a família mudou-se para a Rua das Flores, onde ela passou a frequentar a escola no centro, no prédio onde hoje funciona a Biblioteca e Museu Municipal. Então a família voltou para Nova Santa Cruz, agora com uma área de terras própria, e ela voltou a frequentar a escola anterior com o mesmo professor. Conta que aprendeu ler e escrever em português, e sentia-se muito fraca quando criança, ela estudou por quatro anos. Seu pai, José Kunz, trabalhou como leiteiro, recolhia todos os dias a produção de leite em Nova Santa Cruz, vendia em São Rafael na casa comercial de Rainoldo Arenhart, o recolhimento do era feito de carroça puxada por cavalos, quando chovia pelas condições da estrada eram usados bois.  

Família de José Kunz e Goergen, com os filhos: Teobaldo, Arno, Alzira, Tereza, Oscar, Francisco, Veronica, Inacio, Canisio, Alice, Dalila e Eugenio.


Na Nova Santa Cruz da época, a família Kunz frequentava a venda do senhor Benno Johann para adquirir alguns mantimentos que não produziam em sua propriedade. Das lembranças da infância Thereza recorda que levou  a cavalo, milho em grão ao moinho, que ficava próximo onde hoje está o arado, na entrada de Nova Santa Cruz, para fazer farinha. Na ida derramou o milho de um lado da mala de garupa (tswerich sac), ela lembra do local do ocorrido, na Igreja Sagrado Coração de Jesus, havia uma ponte com um buraco, e foi um pouco antes, não pode mais ajuntar o milho pois estava na terra e misturado com pedrinhas ficou impróprio para consumo. A família tinha uma pequena área de terras, por isso após a colheita da lavoura, Thereza e seus irmãos mais velhos trabalhavam de agregados na propriedade de outras famílias.

Foto do casamento de Thereza Kunz e Luiz Adroaldo Marges.

Thereza casou-se com Luiz Adroaldo Marges, no sábado, 26 de junho de 1954. Após casar-se morou em Sampainho, um ano após casada seus pais mudaram-se para Planalto em Santa Catarina onde faleceram.  Em Sampainho, o esposo trabalhou de carpinteiro, com seu pai, fabricavam carroças, rodas, carrocerias de caminhão e até caixões, neste período Tereza trabalhou com a sogra na lavoura. Do casamento com Luiz, teve três filhas: Ilse, Terezinha e Lucila. Quando seus sogros falecerem em Sampainho, foi residir em Mato Leitão e mais tarde voltou para Santa Clara do Sul. Seu espodo Luiz faleceu em 2004, ela passou a residir com sua filha Terezinha, em Picada Augusta Cruzeiro do Sul.

Família de Luiz Adroaldo Marges e Thereza Kunz, com as filhas: Ilse, Terezinha e Lucila.


Tivemos uma conversa muito agradável, com um bom chimarrão, olhamos muitas fotos, e entre as tantas fotos Thereza guarda muitas imagens de santos, como forma piedosa de devoção. A filha Teresinha, conta que ela reza o terço todos os dias, lê diariamente jornal e gosta até de ler livros. Com este exemplo e inspiração para todos nós, termino mais um relato dos nonagenários, que narram um pouco da história do cotidiano da Santa Clara do Sul do passado. Agradeço e desejo saúde, lucides e vida feliz para a senhora Thereza!


Imagens de Santos colecionados por Thereza Kunz Marges. 


Para mais clique abaixo:

98 anos Ida Maria Gottselig Friedrich

103 anos Ella Wünsch Lenhart

90 anos Amélia Ody

95anos Lucia Jung 

Centenária Maria Castro


Rafael Henrique Lenhard, nasci em 19 de Dezembro de 1994, em Santa Clara do Sul RS. Sou formado como Bacharel em Administração pela Universidade Norte do Paraná. Pesquiso a genealogia de várias famílias desde 2008.

Se você tiver alguma contribuição para fazer, estarei a disposição, contate pelo facebook, ou e-mail rafaelhelenhard@gmail.com, não esqueça de me seguir para acompanhar as publicações.

 

 


domingo, 19 de fevereiro de 2023

95 anos de Lucia Hilda Jung

 

Foto da visita a Lucia Jung.

Continuando a série de histórias dos nonagenários de Santa Clara do Sul, estarei publicando nos próximos meses, mais algumas entrevistas. O objetivo é deixar registradas estas memórias que aconteceram há mais de 80 ou 90 anos, assim preservado a história de nossa comunidade.

No último 02 de fevereiro, belo e ensolarado domingo de verão, após a missa na Igreja Matriz, fui visitar as irmãs Lúcia Hilda Jung, 95 anos, e Imelda Isabela Jung, 80 anos, para uma boa conversa em alemão, sobre os idos tempos.

O foco da nossa conversa foi a vida de 95 anos da Lúcia, que com muita lucides, conta ser a segunda filha do casal João Augusto Jung e Anna Paulina Kramer.  Nasceu em 20 de Dezembro de 1927, em Santa Clara do Sul, então segundo distrito de Lajeado, quando a Igreja Matriz ainda era uma Capela da Paróquia Santo Inácio de Lajeado e sua construção havia sido finalizada pouco mais de 10 anos. João Augusto e Anna Paulina tiveram uma numerosa família de 11 filhos: Acilda Letvina, Lucia Hilda, Antônio Aloysio, Orlanda, Irma Maria, Elma Elisabeth, Albano Francisco, Inácio Irineu, Imelda Isabela, Dalmira, Valdemar.


Foto da família de João Augusto Jung e Anna Paulina Kramer.



Lucia conta, que nasceu e residia na Rua das Flores, e que pouco antes de 1933 seus avós maternos, João e Olga Kramer e alguns tios, haviam se mudado para desbravar Boa Vista do Buricá. Nesta oportunidade seus pais com os quatro primeiros filhos, receberam do avô, o convite para unir-se a família na nova colônia. Foi assim que seu pai, João Augusto, vendeu sua casa, terras e animais para João Schabbach, e foi com a família em busca de um futuro promissor, levando apenas alguns móveis e um cachorro, em uma longa viagem de ônibus.

A Boa Vista do Buricá naquela época, era uma área de mata que foi desbravada, com a venda da madeira, os pioneiros construíram suas casas e pagaram suas áreas de terras, que tinham pouco valor, comparadas ás de Santa Clara do Sul. O avô de Lucia, João Kramer, acolheu os filhos em sua casa, até que pudessem ter a sua própria, foi assim com seus pais e tios Ervin Kramer e Frida Eckert. Quando os tios estavam se mudando para a casa nova, em uma ribanceira, a carroça com a mudança do casal perde um pino e se desmonta, os bois se colocaram a correr, a tia Frida ainda tentando segurar sua maquina de costura, cai da carroça e fica presa pela perna em uma corrente e assim foi arrastada.  Lucia lembra que a tia ficou com o rosto desfigurado, relata ela em alemão “em pedaços”, e no velório cobriram seu rosto com um pano. Não havia padre na comunidade, apenas em Três de Maio a família conseguiu contatar um sacerdote para celebrar as exéquias.  A avó de Lucia, Olga, quando ficou sabendo do ocorrido teve um AVC, também não foi possível contatar médico, e a avó faleceu no mesmo dia do enterro da tia Frida, o padre não pode comparecer a nenhum dos sepultamentos, devido às dificuldades de deslocamento.

Diante de tal situação, sem assistência médica e espiritual, o pai de Lucia ficou muito receoso em continuar a vida em Boa Vista do Buricá, voltando para Santa Clara do Sul, depois de nove meses, comprou a casa e os animais que havia vendido antes da mudança para João Schabbach.

Foto de Lucia criança, sentada na cadeira ao lado de sua irmã Acilda.

Lucia estudou alguns meses na escola em Boa Vista do Buricá, em Santa Clara do Sul, foi aluna do renomado professor e regente João Otto Ruschel. Após frequentou alguns meses a escola no Bairro Conventos em Lajeado com o Professor Penz. Por fim, estudou com professoras, no prédio que hoje sedia o museu e biblioteca municipal, onde ela denomina como “Rehirum Schule”, as aulas eram em Alemão, não haviam cadernos, os alunos tinham pequenas lousas, onde desenvolviam suas atividades, apagando elas no termino da aula . Ela se lembra dos colegas Arnoldo Ruschel, Nely e Vania Schabbach. Aos oito anos fez a Primeira Comunhão e aos doze a Comunhão Solene, na época a escola e a religião estavam interligadas, onde na Comunhão Solene era o encerramento do período estudantil.   

Quando Lucia terminou seu período escolar, trabalhou em casa com os pais, no cultivo da lavoura, plantando milho, aipim, batata, feijão, cana de açúcar, aboboras, tudo para o sustento da família. Neste período também a família construiu uma casa nova, as madeiras utilizadas, foram de arvores cortadas na propriedade, Lucia e sua irmã mais velha, Acilda, ajudaram seu pai a serrar as toras para a construção.


Lucia com suas irmãs mais velhas.

Lucia, Elma, Acilda

Irma e Orlanda

Conversamos sobre as festividades e comidas de antigamente, foi então que ela procurou seu caderno de receitas antigas, escritas em alemão, onde constam vários doces como pudim de laranja, pudim de queijo, pudim de leite, Eier Süss (doce de ovos), torta de chocolate, além de cucas, bolos, wafle e bolinhos. As principais festividades do ano eram Natal, Páscoa e a festa do Kerb. O Kerb é a festividade do padroeiro da paróquia, que reunia toda família, parentes muito distantes vinham para a comemoração que durava três dias, então eram preparadas todas estas delicias preservadas em seu caderninho de receitas..

Livro de receitas de Lucia, escritas em Alemão.

Em 1987, Lucia e sua irmã Imelda mudaram-se para o centro de Santa Clara do Sul, onde residem até hoje. Em 2016 no centenário de construção da Igreja Matriz São Francisco Xavier, Lucia fez a doação de uma imagem de Santa Clara de Assis, que está na capela em frente a Igreja. Termino mais um belo relato e exemplo de vida, cheia de desafios e superações, agradecendo e desejando saúde, lucides e vida feliz para a Lucia!


Imagem de Santa Clara de Assis, doada por Lucia, no centenário de construção da Igreja Matriz de São Francisco Xavier.




Para mais clique abaixo:

98anos Ida Maria Gottselig Friedrich

103 anos Ella Wünsch Lenhart

90 anos Amélia Ody   

 

Rafael Henrique Lenhard, nasci em 19 de Dezembro de 1994, em Santa Clara do Sul RS. Sou formado como Bacharel em Administração pela Universidade Norte do Paraná. Pesquiso a genealogia de várias famílias desde 2008.

Se você tiver alguma contribuição para fazer, estarei a disposição, contate pelo facebook, ou e-mail rafaelhelenhard@gmail.com, não esqueça de me seguir para acompanhar as publicações.